sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Homenagem à Frederico Garcia Lorca - Praça das Guianas






"Homenagem a Frederico Garcia Lorca" Flávio de Carvalho - escultura em metais, Praça das Guianas.

A Geração de 27

A Geração de 27 foi um grupo de espanhóis do ciclo de literatura entre 1923 e 1927 com o desejo de trabalhar com formas vanguardistas de arte e poesia. Sua primeira reunião formal aconteceu em Sevilha em 1927 marcando o aniversário de 300 anos da morte de Luis de Góngora.

Os membros eram:

  • Rafael Alberti (1902-1999)
  • Vicente Aleixandre (1898-1984)
  • Dámaso Alonso (1898-1990)
  • Manuel Altolaguirre (1905-1959)
  • Luis Cernuda (1902-1963)
  • Gerardo Diego (1896-1987)
  • Federico García Lorca (1898-1936)
  • Jorge Guillén (1893-1984)
  • Emilio Prados (1899-1962)
  • Pedro Salinas (1891-1951)
  • Pepín Bello (1904-2008)
A Guerra Civil Espanhola trouxe o fim do movimento: Federico García Lorca foi assassinado e outros membros forçados ao exílio.

Poema de Carlos Drummond de Andrade

Notícias de Espanha

Aos navios que regres
sam
marcados de negra viagem,
aos homens que neles voltam
com cicatrizes no corpo

ou de corpo mutilado,

peço notícias de Espanha.

Às caixas de ferro e vidro,
às ricas mercadorias,
ao cheiro de mofo e peixe,

às pranchas sempre varridas
de uma água sempre irritada,

peço notícias de Espanha.

Às gaivotas que deixaram

pelo ar um risco de gula,
ao sal e ao rumor das conchas,
à espuma fervendo fria,

aos mil objetos do mar,

peço notícias de Espanha.

Ninguém as dá. O silêncio
sobe mil braças e fecha-se
entre as substâncias mais duras.
Hirto silêncio de muro,

de pano abafando boca,

de pedra esmagando ramos,

é seco e sujo silêncio
em que se escuta vazar
como no fundo da mina

um caldo grosso e vermelho.

Não há notícias de Espanha.


Ah, se eu tivesse navio!
Ah, se eu soubesse voar!

Mas tenho apenas meu canto,
e que vale um canto? O poeta,

imóvel dentro do verso,

cansado de vã pergunta,
farto de contemplação,

quisera fazer do poema
não uma flor: uma bomba

e com essa bomba romper

o muro que envolve Espanha.


Verso a Frederico Garcia Lorca

Sobre teu corpo, que há dez anos
se vem transfundindo em cravos
de rubra cor espanhola,
aqui estou para depositar
vergonha e lágrimas.

Vergonha de há tanto tempo
viveres — se morte é vida —
sob chão onde esporas tinem
e calcam a mais fina grama
e o pensamento mais fino
de amor, de justiça e paz.

Lágrimas de noturno orvalho,
não de mágoa desiludida,
lágrimas que tão-só destilam
desejo e ânsia e certeza
de que o dia amanhecerá.
(Amanhecerá.)

Esse claro dia espanhol,
composto na treva de hoje
sobre teu túmulo há de abrir-se,
mostrando gloriosamente
— ao canto multiplicado
de guitarra, gitano e galo —
que para sempre viverão
os poetas martirizados.

Poema de Manuel Bandeira

No vosso e em meu coração

Espanha no coração
No coração de Neruda,
No vosso e em meu coração.
Espanha da liberdade,
Não a Espanha da opressão.

Espanha republicana:
A Espanha de Franco, não!
Velha Espanha de Pelaio,
Do Cid, do Grã-Capitão!
Espanha de honra e verdade,
Não a Espanha da traição!
Espanha de Dom Rodrigo,
Não a do Conde Julião!

Espanha republicana:
A Espanha de Franco, não!

Espanha dos grandes místicos,
Dos santos poetas, de João
Da Cruz, de Teresa de Ávila
E de Frei Luís de Leão!
Espanha da livre crença,
Jamais a da Inquisição!
Espanha de Lope e Góngora,
De Góia e Cervantes, não
A de Felipe II
Nem Fernando, o balandrão!
Espanha que se batia
Contra o corso Napoleão!

Espanha da liberdade:

A Espanha de Franco, não!
Espanha republicana,
Noiva da Revolução!
Espanha atual de Picasso,
De Casals, de Lorca, irmão
assassinado em Granada!
Espanha no coração
De Pablo Neruda, Espanha
No vosso e em meu coração!

La Pasionaria



Dolores Ibarruri("La Pasionaria") ficou famosa com um discurso na Rádio Republicana de Madri, quando estourou a Guerra Civil Espanhola. "É melhor morrer em pé, que viver de joelhos. Eles(os franquistas) não passarão!" Nasceu pobre na região das minas bascas, procurou se libertar dos serviços domésticos por meio de um casamento com o trabalhador das minas, que frequentemente era preso por atividades socialisas. Eleita para o Comitê Central do Partido Comunista da Espanha, em 1930, tornou-se editora do jornal do partido e foi presa. Viajou para Moscou e, na volta, foi aprisionada novamente. Libertou-se, depois de vencer as eleições como deputada, com a vitória da Frente Popular, em 1936. Nos comícios, castigava generais não-comunistas, acusando-os de se divertirem em orgias nos bordéis e apoiou a linha mais dura contra os trotskistas charlatães. O começo de vida pobre, um severo vestido negro e tremendo talento para a oratória lhe deram um apelo moral e romântico aos olhos dos intelectuais de esquerda e da população. Exilou-se na URSS em 1939, onde resistiu às tentativas de mudar o Partido Comunista espanhol para enfrentar as transformações na Espanha de Franco. Considerada uma relíquia histórica, voltou ao país, onde morreu.

NOTA: La Pasionaria é o exemplo da mulher comunista lutadora que não se deixa cair no revisionismo e passa a vida toda em luta, tornando-se verdadeiramente insuperável.

(1895-1985): Conhecida como "La Pasionaria", pseudônimo que adotou ao escrever para o jornal "El Minero Vizcaino", nasceu na Espanha no País Basco, seu nome verdadeiro era Isidora Ibárruri Gómez. Ingressou no Partido Comunista Espanhol em 1920. Em 1930 tornou-se membro do Comitê Central. Foi redatora do jornal Mundo Obrero, órgão do PC Espanhol, no qual dedicou-se às questões femininas. Foi presa pela primeira vez em 1931 e, em seguida em 1933. Com a vitória da Frente Popular foi eleita deputada. É de sua autoria o imortalizado grito de guerra "No Pasaran!", pronunciado após um pronunciamento do General Franco. Após a derrota na guerra civil espanhola refugiou-se na União Soviética. Em maio de 1944, no exílio, tornou-se Secretária Geral do Partido Comunista Espanhol e em 1960 é escolhida Presidente do Partido. Após a morte de Franco, retornou à Espanha tendo sido novamente eleita Deputada.


Vítimas da Guerra Civil Espanhola

Federico García Lorca

Federico García Lorca (Fuente Vaqueros, 5 de junho de 1898 — Granada, 19 de agosto de 1936) foi um poeta e dramaturgo espanhol, e uma das primeiras vítimas da Guerra Civil Espanhola.

Biografia

Nascido numa pequena localidade da Andaluzia, García Lorca ingressou na faculdade de Direito de Granada em 1914, e cinco anos depois transfere-se para Madri, onde ficou amigo de artistas como Luis Buñuel e Salvador Dali e publicou seus primeiros poemas.

Grande parte dos seus primeiros trabalhos se baseiam em temas relativos à Andaluzia (Impressões e Paisagens, 1918), à música e ao folclore regionais (Poemas do Canto Fundo, 1921-1922) e aos ciganos (Romancero Gitano, 1928)

Concluído o curso, foi para os Estados Unidos da América e para Cuba, período de seus poemas surrealistas, manifestando seu desprezo pelo modus vivendi estadunidense. Expressou seu horror com a brutalidade da civilização mecanizada nas chocantes imagens de Poeta em Nova Iorque, publicado em 1940.

Voltando à Espanha, criou um grupo de teatro chamado La Barraca. Não ocultava suas idéias socialistas e, com fortes tendências homossexuais, foi certamente um dos alvos mais visados pelo conservadorismo espanhol que, sob forte influência católica, ensaiava a tomada do poder, dando início a uma das mais sangrentas guerras fratricidas do século XX.

Intimidado, Lorca retornou para Granada, na Andaluzia, na esperança de encontrar um refúgio. Ali, porém, teve sua prisão determinada por um deputado católico, sob o argumento (que tornou-se célebre) de que ele seria "mais perigoso com a caneta do que outros com o revólver".

Assim, num dia de agosto de 1936, sem julgamento, o grande poeta foi executado com um tiro na nuca pelos nacionalistas, e seu corpo foi jogado num ponto da Serra Nevada. A caneta se calava, mas a Poesia nascia para a eternidade - e o crime teve repercussão em todo o mundo, despertando por todas as partes um sentimento de que o que ocorria na Espanha dizia respeito a todo o planeta... foi um prenúncio da Segunda Guerra Mundial.

Exílio na morte

Assim como muitos artistas - e a obra Guernica, de Pablo Picasso -, durante o longo regime ditatorial do Generalíssimo Franco, suas obras foram consideradas clandestinas na Espanha.

Com o fim do regime, e a volta do país à democracia, finalmente sua terra natal veio a render-lhe homenagens,

sendo hoje considerado o maior autor espanhol desde Miguel de Cervantes

Lorca tornou-se o mais notável numa constelação de poetas surgidos durante a guerra, conhecida como "geração de 27", alinhando-se entre os maiores poetas do século XX. Foi ainda um excelente pintor, compositor precoce e pianista. Sua música se reflete no ritmo e sonoridade de sua obra poética. Como dramaturgo, Lorca fez incursões no drama histórico e na farsa antes de obter sucesso com a tragédia. As três tragédias rurais passadas na Andaluzia, Bodas de Sangue (1933), Yerma (1934) e A Casa de Bernarda Alba (1936) asseguraram sua posição como grande dramaturgo.

Bibliografia

Em sua curta existência, García Lorca deixou importantes obras-primas da literatura, muitas delas publicadas postumamente, dentre as quais:

Poesia

  • Livro de Poemas - 1921
  • Ode a Salvador Dalí - 1926.
  • Canciones (1921-24) - 1927.
  • Romancero gitano (1924-27) - 1928.
  • Poema del cante jondo (1921-22) - 1931.
  • Ode a Walt Whitman - 1933.
  • Canto a Ignacio Sánchez Mejías - 1935.
  • Seis poemas galegos - 1935.
  • Primeiras canções (1922) - 1936.
  • Poeta em Nueva York (1929-30) - 1940.
  • Divã do Tamarit - 1940.
  • Sonetos del Amor Oscuro - 1936

Prosa

  • Impressões e Paisagens - 1918
  • Desenhos (publicados em Madri) - 1949
  • Cartas aos Amigos - 1950

Teatro

  • Assim que passarem cinco anos - Lenda do tempo - 1931.
  • Retábulo de Don Cristóvão e D.Rosita - 1931.
  • Amores de Dom Perlimplim e Belisa em seu jardim" - 1926.
  • Mariana Piñeda - 1925.
  • Dona Rosinha, a solteira - 1927.
  • Bodas de Sangue (Trilogia) - 1933.
  • Yerma (Trilogia) - 1934.
  • A Casa de Bernarda Alba (Trilogia) - 1936.
  • Quimera - 1930.
  • El Publico - 1936

For Whom the Bell Tolls

Ernest Hemingway

Por quem os sinos dobram
(em inglês For Whom the Bell Tolls) é um romance de 1940 escrito por Ernest Hemingway.

O livro narra a história de Robert Jordan, um jovem norte-americano das Brigadas Internacionais. Um perito no uso de explosivos, Jordan recebe a missão de explodir uma ponte por ocasião de um ataque simultâneo à cidade de Segóvia. Hemingway usa como referência sua experiência pessoal como partipante voluntário da Guerra Civil Espanhola ao lado dos republicanos e faz uma análise ácida, com críticas à atuação extremamente violenta das tropas franquistas auxiliadas pelo governo fascista italiano e nazista alemão. Critica também a passividade da comunidade internacional diante do conflito, além desorganização da própria esquerda.

Foi filmado em 1943 tendo nos papéis principais os astros da época Gary Cooper e Ingrid Bergman, com uma cena famosa na qual o casal usa um mesmo saco de dormir.

O que foi a Guerra Civil Espanhola?


Guerra Civil Espanhola
A chamada Guerra Civil Espanhola foi um conflito entre duas frentes militares, ocorrido na Espanha entre os anos de 1936 e 1939. A vitória coube aos nacionalistas de Francisco Franco.
PrecedentesA derrubada temporária dos Bourbons absolutistas por Napoleão I em março de 1808 , a Guerra de Independência contra a ocupação francesa, a abertura das Cortes de Cádiz em 1810 e a proclamação da Constituição liberal de 1812 assinalam o desaparecimento do Antigo Regime espanhol, que havia chegado, durante o reinado de Carlos III da Espanha, a ser considerado como um exemplo de Despotismo Esclarecido. Durante todo o século XIX e o início do século XX, no entanto, a Espanha não conseguiu completar, política e socialmente, a sua revolução burguesa de forma a produzir uma institucionalidade liberal-democrática estável. O século XIX espanhol foi um período especialmente conflitivo, com lutas entre liberais e absolutistas, entre membros rivais da Casa de Bourbon (isabelinos e carlistas), e mais tarde entre monarquistas e republicanos, sobre o pano de fundo da perda das colônias americanas e filipinas.


A economia espanhola teve um crescimento rápido desde o final do século XIX até ao início do século XX. Em especial, as indústrias mineiras e metalúrgicas lucraram e expandiram-se enormemente durante a primeira guerra mundial, fornecendo insumos a ambos os lados. Entretanto, os resultados desse crescimento não se refletiram em mudanças nas condições sociais. A agricultura, sobretudo na Andaluzia, continuou em mãos de latifundiários, que deixavam grandes extensões de terra sem cultivar. Somava-se a isto a forte presença da Igreja Católica, que se opunha às reformas sociais e se alinhava aos interesses da elite agrária. Finalmente, a monarquia espanhola apoiava-se no poder militar para manter o seu regime. O fim da monarquia e o advento da república (1931) nada mudou nesta configuração política básica, com a agravante de que Igreja e Exército se mantiveram monárquicos e as tentativas de golpe tornaram-se constantes.

Com o crescimento da economia, houve o crescimento do movimento operário. Após a fundação da primeira sociedade operária em Barcelona (1840), o movimento cresce e se espalha pelo país. Desde o início, e principalmente na Catalunha, que é a principal região industrial de Espanha, o anarquismo cria raiz e é a tendência política mais popular entre os operários. A principal confederação sindical, a CNT (Confederación Nacional del Trabajo), sob influência anarco-sindicalista, recusa-se a participar na política partidária.

O choque entre classes é frequente e violenta. Desde o fim do século XIX até o início do século XX, grupos de extermínio como o Sindicato Libre procuram suprimir os sindicatos através do assassinato dos seus principais militantes. Do outro lado, grupos de militantes sindicalistas, como o famoso Nosotros, também assassina religiosos e industriais suspeitos de apoiar o Sindicato Libre. Insurreições armadas, tanto de direita como de esquerda ocorrem com regularidade.

Premonição da Guerra Civil - Salvador Dali





















O quadro Premonição da Guerra civil, de Salvador Dalí, é utilizado como meio para mostrar os dois pólos da Guerra , de satisfação total e de mutilação, destruição absoluta.
Dalí era publicamente contra a guerra, achava-a desnecessária e terrível, e utilizou esta pintura como meio para demonstrar isso. A guerra era, segundo ele, o resultado de diferenças entre homens com ambições assustadoramente bestiais, desmedidas. “A premonição da guerra civil”, de Dalí, baseia-se em dolorosos pensamentos de saudade, de morte, de consciência que a vida.
O pequeno homem á esquerda, parado sobre a pesada mão. Este simboliza Anneke e Nikki van Lugo, amigos de infância de Dalí, que tiveram um importante papel na formação da personalidade do pequeno Salvador.
Os feijões cozidos podem significar as antigas oferendas catalãs aos deuses. Podem também significar a fome, a ausência de alimento durante a guerra civil espanhola. Provocando assim um significado ainda mais profundo acerca da morte e da vida.